
João Osvaldo Rodrigues nasceu em Lamego, no seio de uma família cristã, no ano de 1953.
Cedo se sentiu inclinado para a pintura e para a escultura. Momentos da sua obra foram premiados pela Sociedade Nacional de Belas Artes em Lisboa.
Grande parte da sua obra, quer de pintura, quer de escultura, foi realizada em Lamego e continuada em Braga, cidade onde vive e exerceu a docência.
Concebe-se como pintor visionário e conceptual. Assume- se como um estimulador de sensações, um provocador.
Participou em mais de três dezenas de exposições, em localidades como Lisboa, Vendas Novas, Vila Real, Lamego, Peso da Régua, Chaves, Moimenta da Beira, Tarouca, Armamar, Resende, Fafe, Porto, Penedono, Sernancelhe, S. João da Pesqueira, Meda, Tabuaço, Viseu, Aveiro, Vieira do Minho, Braga.
No âmbito da geminação entre Braga e Medina d’el Campo, tem exposto a sua pintura em Espanha, por entre os maiores encómios.
Mas tem também obra dispersa pela Itália, França, Inglaterra, Irlanda e Escócia.
Presentemente promove as coleções de arte sacra: Cristologia – “Encontros com Cristo”; Mariologia – “Mãe de Misericórdia”. E promove uma outra coleção, de cariz vivencial humano – “Luas”.
Estende ainda a sua mestria à escultura. Das esculturas públicas por ele realizadas realçam-se as do Peso da Régua, o S. Bento em Lamego, o Genoma e o Pão Nosso em Braga.
Falando de si próprio…
Desde muito novo, eu, João Osvaldo, senti-me curioso e motivado a seguir as pegadas de alguns irmãos mais velhos ao vê-los singrar na arte da pintura a guache, técnica então utilizada nas aulas de desenho, a que se dedicavam com esmero e competitividade.
Ao meu redor via os semblantes alegres dos meus pais que se regozijavam com as evidências de expressão artística, cada vez mais apuradas nos seus ensaios.
Todos os meus irmãos rapazes revelavam uma acuidade especial para as artes e os trabalhos que exigiam precisão, ao passo que as irmãs evidenciavam tendências musicais e literárias.
Em família respirava-se um ambiente artístico e literário vindo do lado cultural do pai, que bem cedo também apresentava uma veia artística ao executar com elevada mestria trabalhos em pergaminho de iluminuras e ilustrações com textos escritos em letra gótica e letra francesa, a par dos dons de oratória, desafiadores do pensamento, o que muito influenciou os filhos.
A atmosfera familiar artística criou em mim, aos catorze anos, a vontade de competir com os irmãos mais velhos, mesmo sabendo das competências de rigor técnico que lhes era titulado no meio escolar e social, pelos concursos locais e pelas exposições regulares que continuadamente se efetuavam nos espaços públicos da cidade de Lamego.

A nossa atividade artística seguia de perto, se bem que de forma ténue, a influência das correntes artísticas do início do século vinte, assim como das vindouras, em plena década de 60.
Nos tempos livres, passávamos horas a fio no museu de Lamego a observar o trabalho do Luís Amaral, filho do João Amaral, exímio caricaturista, que era funcionário rececionista; num espaço pequenino, à luz amarelada de uma lâmpada, o Luís executava cópias a óleo de obras clássicas de renome. Outras vezes, observávamos a cópia de belíssimas caricaturas do seu pai, das quais retirava algum rendimento, o qual gastava nas tertúlias com os amigos na tasca que ficava a meio caminho do palacete dos Girões e a capela do Divino Espírito Santo, também capela da Nª Srª do Carmo, a quem e onde eu e todos os irmãos fomos consagrados.
Com o passar dos anos os mais velhos iam saindo de casa, e, no desejo de preencher os meus vazios e gritos interiores que partiam de um triângulo de forças muito dominante na adolescência – a vivência religiosa, a pequenez que sentia face à necessidade de ser diferente da sociedade que me rodeava, perante a qual me sentia oprimido, e as intranquilidades perante o meu crescer e perante o meu amanhã; que presente?, que futuro? -, senti- me desafiado a desenhar a um ritmo tão louco que me deixava perdido no tempo.
Em paralelo, brotava de mim um grande dilúvio existencial, que colocava em causa as minhas capacidades, convicções e afetos. Do fundo desse desencanto emergia lentamente a força de vontade de desenhar – livre, espontânea e ousadamente.
Curiosamente, ocorrendo a visita dos irmãos mais velhos que traziam consigo um manancial de revistas e livros de arte e trabalhos por eles mesmos realizados, surpreendia- me ver que eu estava a utilizar as mesmas estratégias de comunicação que eram correntes na Europa, sem que tivesse tido acesso a esses meios de consulta.
No decorrer do tempo, enquanto me debruçava em aprofundar ensaios de rostos, grande parte deles ocorridos no decurso das aulas, experimentava a minha autoconfiança na captação e representação dos traços que mais caraterizavam e diferenciavam as pessoas que me rodeavam.
Sempre tive necessidade de treinar – não se viesse a perder a fluidez e a ligeireza do traço; uma pequena linha identificava facilmente um de entre dez dos colegas e professores que me rodeavam. O desenho desempenhou um papel especial no decurso da minha adolescência e em toda a minha existência até ao presente, pois subjetiva ou objetivamente está presente em todos os meus trabalhos e obras – na escola, nos esquemas, no retrato, na pintura, na escultura, na leitura dos espaços, na geometria, na moda, na publicidade, na rotulagem de garrafas de vinhos, na leitura do belo.
Ainda na minha adolescência, sempre surgiam encomendas de retratos; o método clássico era muito comum na época; ainda hoje muitas pessoas não prescindem desse tipo de retrato. No verão, lá ia o João Osvaldo subir o escadório da Srª dos Remédios com o cavalete ao ombro, uma tela e uma pasta de folhas de desenho, para cativar as pessoas de fora a fazer-lhes o retrato – achava-as sempre diferentes das da terra e seus sorrisos penetrantes ficavam-me guardados por longos tempos.
A experiência adquirida com o retrato marcou o meu sub …, sei lá o quê?, que, mesmo na escola de artes, nos ensaios tão desejados e queridos do desafio da representação dos gestos, sentia com frequência a liberdade destes gestos a ser traída pelo tratamento do pormenor.
À medida que evoluíam os meus níveis de escolaridade, desenvolvi um interesse e simpatia pela geometria descritiva, que me abriu portas muito importantes, por duas razões:
1 – Com 16/17 anos de idade conheci famílias de prestígio social, e desenvolvi apetências de comunicação com gerações distintas, junto de quem me senti acarinhado, dada a proximidade com que era tratado.
2 – Compreendi e evoluí muito no sentido da importância da perceção e leitura da representação das formas no espaço. O encantamento com a geometria descritiva foi tal, que cheguei a pintar uma coleção, aproveitando todas as aprendizagens adquiridas.
Esta minha expansão social abriu portas para novos desempenhos em diversos espaços de exterior e interior, suportes em vidro, mobiliário, cerâmica, parede, papel e cartão, litografia, serigrafia, manequim e ferro, que exigiram de mim um aperfeiçoado e atualizado domínio de novas e renovadas técnicas.
A evolução na interpretação e conhecimento do espaço, o meu próprio crescimento, os feedbacks das aulas de arte, fizeram germinar de novo o encanto da dimensão do gesto em tudo quanto é forma, e da sua força, quer pela projeção da própria forma no momento da perceção, quer pela capacidade de interpretar e de desferir a vontade no desafio desse impulso para buscar o desconhecido/ feito. A este respeito, várias vezes fui confrontado por estrangeiros que visitavam as minhas exposições, e me questionavam se tinha tido escola na Alemanha, pois a minha pintura lhes lembrava o expressionismo alemão.
Nessa altura já estava em embrião em mim uma rutura sintomática de cariz social, face às contradições de comunicação que a sociedade de Lamego e certos meandros da sociedade em geral denunciavam.
Os tempos decorriam enquanto assimilava aos soluços o âmago das novas correntes estéticas, de forma muito tímida, mas já motivadora. A revelação explosiva da obra de Almada Negreiros, a reflexão atenta das obras, os porquês dos movimentos surrealistas e dadaístas, e as respetivas manifestações em Portugal, a continuada afeição ao expressionismo, encontraram em mim um fiel entusiasta desses movimentos, pois estava ansioso por retratar a tragédia humana.

Enquanto evoluía no estudo das artes, concorri com quatro telas, estas contextualizadas na tragédia humana e alimentadas pelo ensaísmo das correntes expressionista e surrealista, num concurso nacional de trabalhadores estudantes de artes promovido pela Sociedade Nacional de Belas Artes, no ano de 1976, tendo ganho um primeiro e um terceiro prémios, que me permitiram um conhecimento próximo e prolongado de Londres e um leitura mais focada e palpável do universo da arte, bem como um aprofundamento do conhecimento do futurismo inglês. Enquanto, por um lado, vi alimentado de forma particular o meu saber sobre os movimentos dadaísta e surrealista, por outro lado, senti-me gratificado por ter saboreado lugares e cidades inimagináveis.
Enquanto me repartia profissionalmente em ensino, ilustração de livros, teatro, teatro de fantoches, empreendimentos artísticos e culturais, ia pintando, sempre em busca de evoluir e corresponder aos motivos que me preocupavam ou me alimentavam a ilusão, procurando desenvolver séries, estas muitas vezes interrompidas por novos projetos e solicitações.
De entre tantas, realço o projeto de retratar a região do Douro Sul, depois de realizadas várias paisagens, algumas já então expostas em espaços públicos ligados às autarquias e adegas. Assim surgiu a motivação para retratar a paisagem de forma tão quente, tão dourada, tão colorida quanto o Douro, ao ponto de me apelidarem de “fauve”. Com o desenvolver desta série de quadros e de outros que entretanto realizava, senti que estava a enveredar por uma corrente conceptual e visionária, a qual me marcou nos tempos mais próximos.
As escolas E.B.2,3 do Pêso da Régua e Colégio de Lamego, onde lecionava, foram motor para pôr em prática novos projetos associados ao ferro e ao aço dos aros dos tonéis, tendo-me possibilitado a aprendizagem das técnicas, para poder, sozinho, concretizar as várias obras em ferro que, em Lamego, e mais tarde em Braga, foram seguidas. Em Lamego, destaco a escultura de grande porte que está fixada na fachada do Colégio. Na Escola E.B.2,3 do Pêso da Régua, mantém-se vivas a obra de escultura e um painel de azulejo.
Ocorrida a minha vinda para Braga, senti a vivacidade da dinâmica das suas galerias de arte, o carinho com que fui recebido, a creditação que me foi confiada ao desejarem quadros meus em suas casas, e cedo, em 2003, preparei a minha primeira exposição na Casa dos Crivos. Aqui viria ainda a expor mais tarde, em 2015. Aliás, todos os anos, em particular desde 2012, tenho pelo menos uma exposição em Braga. A minha vinda para Braga em 2001 foi assinalada com a colocação de uma escultura de considerável envergadura intitulada “O Pão Nosso” na área próxima da basílica do Sameiro, mais tarde transferida para a área do jardim das oliveiras.
Em breve me dei conta de que necessitaria de fazer algo nunca feito – desenvolver a arte sacra, de forma a ser vivenciada por todos os estratos sociais no sentido de se deixarem tocar pelo “sal”, pelo tempero dialogante, pela forma como abordo a mensagem de fé na Santíssima Trindade e em Maria.
Até hoje tenho acarinhado e desenvolvido as dimensões de Cristologia e Mariologia, com a sempre disponível e atenta ajuda do senhor Cón. Doutor José Paulo Abreu, também Diretor do Museu Pio XII, a quem agradeço tudo quanto me tem ensinado, e todos os empurrões para poder ter levado estas coleções a bom termo, e ter sabido aturar as minhas espontaneidades e ousadias de pensamento e divagações perante assunto tão sério.
Ao lado do desenvolvimento destas coleções enveredei pela pintura de uma coleção intitulada “Luas”, através da qual eu narro pedaços da minha existência e da minha conceção de sociedade.
Em todas estas coleções vejo-me como um pintor conceptual e visionário.

Agradeço a todos os membros das famílias onde cresci e cresço, no meu projeto, e aos meus filhos em particular, minha irmã que reside em Braga, e amigos, pelo bem me quererem, pela paz dos seus abraços. Também agradeço a todos os que acreditaram e confiaram no meu projeto, e adquiriram bagos da tão imensa obra dispersa pelo país de norte a sul, e no estrangeiro.
O pintor e escultor, João Osvaldo Rodrigues